segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Visão

Sentada com a bolsa de retalhos sobre seu colo, cabeça baixa, e as mãos sobre a bolsa, apertando a alça de leve. Era assim que ela preferia ficar, com os longos cabelos pretos escondendo seu rosto, não era vista, e também não queria ver ninguém...
Ela já sabia que, por mais que disessem que não tinha nada, ela sentia, e tinha certeza do que via.
Algumas vezes diziam que era louca, outras que tinha uma sensibilidade fora do comum, mas o que ela queria mesmo era ser normal e nada mais.
De tanto ser rejeitada por todos não ligava mais para o que diziam.
Com sua calça jeans desfiada, um allstar surrado e uma camisa preta, ja estava a um bom tempo no metrô que nem sabia mais em que estação estava, tomou coragem então e decidiu levantar a cabeça e retornar ao mundo real por um instante, olhou pela janela bem a tempo de ver a última placa da estação Santana...Ja estava prestes a entrar em outro túnel... E como detestava esses túneis.
Sentiu um frio na espinha e relutante, deu uma olhada no restante do cenário.
A garota estava no 1° vagão e bem longe da cabine do maquinista, no último banco. O que mais lhe chamou a atenção foi um senhor sentado no outro extremo, com os braços caídos e as mãos pousadas sobre suas pernas, todo vestido de preto, e não parava de olhar para ela. Ela não se achava nem um pouco interessante, e isso em conjunto com o calafrio que sentiu, então era hora de se fechar novamente.
Rapidamente abaixou a cabeça deixando os cabelos cairem na frente do rosto. Assustada e com o coração acelerado, não sabia nem como pensar ou reagir.
Por puro reflexo, dá um pulo olhando para o lado quando alguém senta ao seu lado, e para seu alívio, reconhece o rapaz que estudava em sua classe a alguns anos na faculdade...
- Gabriela? É você?
- Hmmm...Renato?
- Isso!! - O rapaz da um sorriso ao ver que ela se lembrava dele - Desculpa ter te assustado.
- Imagina - ela responde com um olhar triste - eu que ando meio distraída mesmo.
- Caraca! Quem iria imaginar que a gente ia se encontrar depois de tanto tempo aqui no metrô!
- Pois é...
- O que ta fazendo da vida? Trampando?
- Eh...Telemarketing...
- Nossa, desistiu de dar aulas? Você gostava tanto das aulas de física...e também nem ligava pra galera que te zuava... ah, desculpa...
- Não imagina, é verdade, ainda bem que nunca mais os vi.
- É, nem eu.
O rapaz fica sem graça e passeia pelo vagão com os olhos e nota um senhor do outro lado que não parava de olhar na direção dos dois, na verdade, não parava de olhar para Gabriela, e por isso ela estava com a cabeça baixa.
- Ele está te incomodando é isso Gabi?
- Ele? de quem voc... - Ela arregala s olhos - Você tamb...
- Cara, você está tremendo! Quem é esse cara? O que ele te fez?
- Na...nada!
- Como nada? - Renato encara o velho - Ele não para de te olhar.
- Não Renato! Não olha pra ele não.
- Por que não?! - Renato então lança um olhar ameaçador para o senhor.
- Renato não deixa ele perceber que ós o vi... - Mais um calafrio, e ela não é mais o foco do senhor.
- Vai encarar velho? - Renato fica em pé no meio do corredor do vagão.
O senhor lentamente se levanta enquanto todos olham assustados para o rapaz.
- Para de incomodar a garota OK??
- Renato não! - com lágrimas nos olhos Gabriela puxa o braço do amigo - Vamos, temos que descer na próxima. Temos que sair daqui rápido!.
- Relaxa Gabi, eu dou um jeito nele.
 O Rapaz avança. O senhor com um ódio no olhar fica parado no meio do corredor do outro lado do vagão. As pessoas assustadas continuam olhando para o rapaz enfurecido, e Gabriela fica parada no mesmo lugar, olhando para o amigo e para os lados sem saber o que fazer.
- Você tem algum problema seu velho louco? - Diz o rapaz ao chegar bem perto do senhor.
Uma campainha ensurdecedora soa no vagão.
- PRÓXXXXIMA ESSSSST......ÃO........IM.......AULLLLO.....
O trilho do trem grita de agonia com a força das rodas do metrô passando sobre ele.
Sem ouvir nada, vê seu amigo dando um empurrão no ombro do velho, que não sai do lugar..."O Renato errou?" pensa a garota.
Assustado, Renato da um passo atrás e por um instante nota um sorriso maligno no rosto do senhor, que com um rápido movimento agarra o pescoço do jovem.
As pessoas ao redor se afastam, o velho levanta o Renato pelo pescoço com uma só mão.
Gabriela aos prantos imóvel, se desespera pelo amigo.
O metrô trepida, as luzes piscam, o corpo de seu amigo está caído no chão, devagar as pessoas se juntam ao redor do rapaz. E Gabriela segue olhando para o velho, com seu braço estendido, segurando seu amigo imóvel pelo pescoço.
Com um sorriso enlouquecido, o velho ignora a presença de todos, volta a olhar para gabriela e solta uma gardalhada alta, que se funde com o ranger dos trilhos sob o trem.
Ela sabe que o velho sente sua presença, mas agora, não está tão interessado mais nela. Ele olha para o rapaz em sua mão, volta o olhar para Gabriela e com toda a sua força atira o corpo de Renato na direção de Gabriela que estende os braços para se proteger, e no momento em que o corpo de seu amigo o atinge, ela só sente um arrepio em todo o corpo.
Rindo loucamente o velho desaparece.
Gabriela cai de joelhos com os olhos cheios de lágrimas, e o rosto molhado de tanto choro esvazia os pulmões em um forte grito de desespero.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Metrô da meia noite


Ae pessoal se alguém le isso aqui rsrs desculpem pela demora, a faculdade ta tenso e eu quando entro no metro durmo feito uma pedra, ta difícil conseguir escrever algo novo, esse daqui tem um tempinho já, e to com um fresquinho no caderno de anotações, só preciso digitar.
Obrigado pela visita ^^ 

Metrô da meia noite

De pé com o olhar vazio, olhando para o nada, impossível saber o que o rapaz está pensando... segurando a alça de sua mochila pesada em suas costas, está perdido novamente em alguma outra realidade.
Olhando para o chão da plataforma central daquela estação de metrô, sua mente vaga sem ânimo, está faltando alguma coisa...
Ele sabe que o metrô não é um lugar seguro para se deixar tão vulnerável desta maneira, e também tem consciência de que tudo que a TV disse sobre o massacre no metro daquela outra vez foi tudo uma farça. Não houve descarrilamento nenhum, algo de muito suspeito e sobrenatural aconteceu...
Ele tinha que encontrar aquela garotinha e seu protetor rápido, talvez eles pudessem ajudar...
Mas nesse momento, o rapaz só pensava naquela pessoa.
Seu coração levava sua mente para léguas de distância, através das florestas, rios, as mais altas montanhas cobertas de neve, ao lado do mar...
Ele sabia que tinha que se concentrar enquanto estivesse no metrô, não poderia deixar que o encontrassem, tinha em mente que eles sentem a presença de pessoas como ele...e haviam mesmo tantas pessoas como ele?
Mas sua mente o pregou uma peça...
Seus olhos vidrados olhando para o chão não percebem que o chão se move como uma rápida onda, distorcendo a realidade e abrindo assim novamente a passagem...
Seus olhos baixam um pouco mais, sua cabeça pende para frente como se estivesse com sono, ele ja estava fraco demais para despertar, eles já o dominavam...
Ninguém podia notar mas aquelas mãos negras e esqueléticas saindo da escuridão dos trilhos debaixo da plataforma, arrastando consigo seus grandes corpos escuros. Os olhos vermelhos sedentos de sangue brilhavam na escuridão almejando mais poder.
Vários deles já estavam a espreita arranhando os trilhos com suas garras negras manchadas de sangue...Queriam se vingar pela ultima caça...
O corpo do rapaz balançava para trás e par frente sendo disputado pelas criaturas que se escondiam abaixo da plataforma e nas sombras atrás das lâmpadas.
Mesmo estando tão vulnerável, alguma parte de sua consciência sabia do perigo.
Não ouvia mais as pessoas ao redor. Algo em sua mente nota que do outro lado da estação as coisas estavam começando a ficar um pouco mais lentas, as pessoas pareciam andar em camêra lenta e então desesperadamente tenta chamar a consciência de volta e se prender a algo na realidade novamente e afastasse as criaturas dali.
Já podia sentir a respiração daqueles seres quando ao longe consegue captar um agudo assovio, e no fundo do túnel uma fraca luz brilha.
As criaturas da escuridão notam que a mente do rapaz fica cada vez mais forte e está voltando a si, praguejando se arrastam de volta para as sombras.
O metro já está entrando na estação quando o rapaz volta a si, seus olhos ardem e pisca apertando os olhos para voltarem ao normal, de relance ao abrir vê pontos vermelhos abaixo da plataforma que somem em um segundo, mas o trem passa e impede que olhe de novo para verificar o que era.
"Vacilou e quase foi pego seu idiota!"
Sua consciência está de volta, mas seu coração não está mais com ele.
Precisa encontrar logo o que lhe completa para que possa seguir a jornada...

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Ela



Ela

Mais uma vez naquele metrô, o tédio e o desanimo em sua vida ultimamente só vinha aumentando...
Seus olhos, mais fundos impossível, as olheiras suas companheiras, agora faziam parte de sua face.
As pessoas que antes não viam ninguém, agora já podiam ver em seus olhos que havia algo de errado com aquele rapaz... mas só agora?
Em algum canto do metrô sempre havia alguém olhando para ele, e comentando algo.
Os papéis se inverteram, antes era ele que observava tudo atentamente, estudava, analisava, mas algo aconteceu, as coisas não pareciam mais tão interessantes como antes.
Com seus braços sobre a mochila, abraçando-a como se protegesse algo precioso, estava sentado de frente para a janela do outro lado, ouvindo sua música no fone de ouvido, e o olhar perdido em algum lugar no infinito à sua frente.
O túnel do metrô, que antes poderia estar escondendo seres fantásticos, agora era só uma parede cinza e suja, feita de cimento, onde vez ou outra se podia ver uma lâmpada ou outra.No que o garoto estava pensando? Que músicas ouvia? O quão longe estavam seus pensamentos e por onde passeavam? O que sugou sua essência desta maneira?
O primeiro vagão sai do túnel, haveria alguma luz? Não é este o ditado popular? "Há sempre uma luz no fim do túnel?".
É hora do segundo vagão sair de sua toca...Não tem nada lá...Neste horário nem o sol está presente mais.
Terceiro vagão...A música acabou, o garoto tira o MP3 do bolso... O trem está completamente fora do túnel e está parando.O rapaz passeia com os dedos sobre os botões do MP3, outra música, outra, a próxima... para...Algo volta à sua memória. O MP3 volta para o bolso, e seus olhos lentamente para a janela.
Sua surpresa é enorme ao avistar aquela garota. Na plataforma, do outro lado da estação, estava ela, de cabelos lisos e pretos olhando diretamente nos olhos do rapaz. Linda, estava linda!
Com seus braços para traz e usando um grande vestido preto com babados e rendinhas, uma graça de sapatilhas pretas esfregando o chão com a ponta de um dos pés. Um leve sorriso enfeitava seus lábios rosados, que contrastavam um pouco com sua pele clara.
Devagar ela solta os braços, a feição do rapaz muda, um olhar com um toque de desespero e angústia surge. As mãos da menina agora juntas na frente do corpo quase somem em meio à tantos babados e rendas.
Ele tenta falar algo...Rapidamente ela leva o indicador aos lábios..."Shhh" ele ouve em sua alma. Ela balança suavemente a cabeça sabendo o que ele ia dizer, seus cabelos balançam graciosamente.
As portas do metrô se fecham. Ela lança um beijo, sorri, acena um leve adeus, se vira, e corre...

O garoto com um nó na garganta tenta impedir, mas ela some em meio à multidão.

Ele fecha os olhos, encosta no banco e pensa...respira fundo, olha pela janela e ve a cidade la fora...Algo mudou em seu olhar, um esboço de sorriso surge, havia desaprendido, e um brilho em seu olhar reaparece...

Próxima estação...

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Início - O Último trem

  Este foi o primeiro conto que escrevi, que espero que continue, não consigo escrever com muita facilidade, as vezes demoro um pouco pra conseguir escrever um conto desses, até vir a "Inspiração" ou sei lá.
Mas enfim, espero que gostem deste meu novo projetinho...vou tentar conciliar isso aqui com a faculdade (que ta me deixando doido) sei que não vai ser fácil escrever e não sei quando vai aparecer uma idéia legal...  em todo caso, a série desses contos do metro começou com esse texto aqui.

O último trem.


Abro os olhos vagarosamente, as pessoas conversam em voz baixa, estão todos cansados depois de um dia de trabalho, e o balançar do metro embala o nosso sono. As luzes da cidade passam com preguiça do lado de fora.
O condutor anuncia a próxima estação. Não entendo nada do que ele diz. Junto com sua voz, a caixa de som produz um xiado insuportável... Ou sou eu que estou com sono mesmo?
O trem vai parando, as pessoas se levantando. As vozes parecem cada vez mais distantes. Quando olho as pessoas ao meu redor, o mundo parece estar em câmera lenta. Deve ser o sono... As placas da estação me contam onde estamos, "Parada Inglesa".
Sinceramente, não estou interessado em nada ao meu redor no momento. Um desanimo toma conta de mim. E arrependimento também. Devia ter passado a noite com ela.
Devagar as portas se fecham. O sinal toca, e se ouve, próxima estação...", a voz do condutor soa meio estranha.
Olho em volta mais uma vez, as pessoas continuam conversando, mas não ouço uma palavra, e esse zumbido no meu ouvido agora?
Levanto uma sombrancelha com indiferença.
As luzes do lado de fora estão mais cansadas que eu... agora não as vejo mais. As que aparecem agora estão apressadas dando um riso debochado e traiçoeiro.
O trem vai diminuindo a velocidade, parando, parando. Até empacar de vez. Olho ao redor, as pessoas estão tão acostumadas com isso que nem ligam mais.
A estação ja está próxima, então me levanto e fico em pé no meio do corredor.
As pessoas parecem lentas, mas eu também passo meus olhos bem devagar por tudo o que está dentro... e fora do vagão. Do lado de fora uma das lâmpadas pisca.

Uma menina balança a mão da mãe que ouve desinteressada a uma amiga.

Duas lâmpadas piscam próximas à janela.

Um casal se desentende em um canto isolado.

Três lâmpadas oscilam.

O trem volta a andar, um grito de agonia se ouve... Os trilhos reclamando com as rodas do trem?
A garotinha se desespera e sacode os braços da mãe, que se altera e a manda parar com uma ameaça de palmada...
A garota notou algo...
As luzes se apagam.
Um grito agudo de desespero, agonia e dor ensurdece a todos. A mãe chama por sua filha, suas mãos à procuram na escuridão.
"Marta! Marta! Minha filha onde você está?" ela entra em desespero.
Murmúrios agitados começam por todo o vagão, e eu, continuo imóvel no centro do corredor.
Um ruído surdo se ouve, algo pesado caiu próximo a mim, sem se mexer. Outro grito, mais outro e todo o vagão se torna uma confusão, gritos de socorro, súplicas e apelos religiosos se misturamcom pancadas violentas por todos os lados do vagão.
Ao longe pode se ouvir os gritos nos outros vagões do metrô também.
Aos poucos os gritos vão cessando. Sinto uma respiração pesada e um ar quente ao lado do meu rosto. Fecho os olhos calmamente, respiro fundo e imagino que vai ser a ultima vez que o faço...
Mais uma pancada ao meu lado. Um bafo forte em minha face, cheiro de morte. Em um único salto a coisa atravessa a janela de vidro, deixando-a em pedaços, e mais outra criatura salta para fora por uma janela mais distante.
O trem vai diminuindo a velocidade. Abro meus olhos, as luzes piscam e se firmam. Então posso ver o horror...
Corpos completamente ensanguentados, o sangue mancha todo o vagão de vermelho.
Pessoas amontoadas ao meu redor com olhares de desespero gravados em seus rostos por toda a eternidade, e em minha mente pelo resto de meus dias.
Bem próxima à mim, aquela garotinha... Como sua mãe havia lhe chamado mesmo? Marta...
Fito-lhe os olhos. Estão cheios de lágrimas, me olhando bem fundo, como que vendo minha alma.
Ela ainda está viva.
"Cadê a minha mãe? Ajuda ela moço por favor."
Olho ao redor, mas não a vejo, e sério respondo que ela sumiu... Quem sabe não dou uma experança à garota?
"Me tira daqui, por favor!"
Pego a garota no colo, ela esconde seu pequeno rosto em meu peito, e chora.
Saio do vagão, carregando-a no colo, pegadas de sangue me seguem, sento na escadaria da plataforma, aguardo os seguranças e rezo para que eles nos ajudem.
Eles aparecem, e desesperados perguntam o que aconteceu.
Eu abraço a garota, balanço a cabeça e sem saber o que dizer abaixo o rosto.